[Rank C] Kiel - Invasão

A maioria das pessoas que se tornam Hollows carrega consigo algum tipo de obcessão de quando estavam vivas. No caso de Kiel, ele fazia de tudo para se vingar de indivíduos que lhe fizeram mal em vida e após sua morte acabou matando todos. Entretanto, havia um outro problema, um arrependimento especificamente. Kiel não se lembrava do acontecimento de maneira nítida, mas o que recordava era o suficiente para deixar suas emoções desestabilizadas. Eram sempre imagens de uma mulher sendo morta, terminando com ele cometendo suicídio. Esses flashes de lembranças apareciam ora sem causa prévia ora por influência externa e todas as vezes que elas surgiam Kiel tinha que manter o controle das suas emoções afim de não ficar confuso.

Nesse dia, Kiel sofreu esse “ataque de lembranças”, mas durou poucos segundos e ele voltou a si não se importando em descobrir o significado delas. O Hollow voava sobre as dunas do Hueco Mundo pensando no que iria fazer no resto do dia. Pela vontade de buscar diversão, ele tinha desejo de devorar alguém, mas não uma alma qualquer, e sim um Shinigami. O fato é que Kiel já estava experiente em batalhas e se sentia forte o bastante para derrotar um Deus da Morte sozinho. Sem delongas, atravessou uma garganta e apareceu em frente ao portão de um colégio super movimentado. Só precisaria esperar alguns minutos até um Shinigami detectá-lo, mas não ficaria ali à toa. O Hollow fechou as mãos em volta de um homem que parecia um professor e o enterrou de cabeça numa lata de lixo. Os estudantes que passavam na hora caíram na gargalhada provavelmente achando que era um tipo de pegadinha, mas pararam de rir quando uma força invisível lançou-os contra a parede. Kiel não se contentou e levantou voo, quebrando as janelas de cada sala que encontrava no prédio escolar e fazendo buracos na parede com socos.

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- Hahaha! Gritem mais! – Dizia o Hollow eufórico enquanto apreciava a melodia dos gritos dos humanos que provavelmente não entendiam o que acontecia.

Kiel fincou suas garras da mão direita na parede do prédio e enfiou o braço esquerdo dentro da janela de uma sala de aula. Segurou um objeto rígido e puxou-o para fora: uma mesa de metal. Olhou para o solo e largou o objeto para cair sobre um grupo de estudantes que conversavam próximos um do outro. Ouviu-se um estrondo, mais gritos, mas Kiel nem quis saber quantos deles morreram com o impacto.

- Ops! Desculpa, pessoal! Não se vinguem de mim quando virarem Hollows.

O Hollow alçou voo novamente e no caminho passou as garras sobre a afiação da rua. Os fios cederam e a rua inteira, incluindo a escola, entrou em blackout. Alguns pedestres que passavam pela calçada foram eletrocutadas pelos fios recém partidos, outras escaparam correndo da calçada para a estrada, mas em seguida foram atropeladas por um ônibus que não teve tempo de frear. Kiel arrancou o transformador do poste e o lançou com força contra outro ônibus que passava. O objeto lançado entrou pela janela lateral e o veículo fez uma manobra brusca acertando violentamente dois carros ao lado.

- Céus! Eu não sabia que fazer isso é tão divertido - disse Kiel e pousou no meio da rua já pensando em qual brincadeira fazer em seguida.

Utilizando-se de sua força, arrancou a tampa de um bueiro e a jogou verticalmente como se fosse um disco. Uma moto foi acertada em cheio e o motociclista voou feito o superman até entrar num carro através da janela fechada. Em seguida, Kiel ergueu uma bicicleta nos braços e a arremessou para cima, o mais alto que pôde (o detalhe é que o ciclista ainda estava montado dela). Depois disso, quebrou o portão da escola com um soco e adentrou o estabelecimento andando tranquilamente.

Kiel interrompeu sua caminhada lenta e virou-se em direção ao Shinigami que apareceu de forma sorrateira com sua Zanpakutou pronta para fazer o que tinha que fazer. O Hollow sorriu por dentro, eufórico pela presença de alguém que pudesse diverti-lo como nunca antes. Ele sempre lutou contra pessoas indefesas e se derrotasse um Shinigami ficaria mais satisfeito com a vitória. O problema era que pela confiança que o Deus da Morte demonstrava, não parecia ser um oponente fácil de vencer.

- Por que demorou tanto, Sr. Shinigami? – Respondeu Kiel. – Quer se juntar a minha brincadeira?

No momento que ele terminou de falar, o Shinigami não esperou outra e correu para atacá-lo. O homem correu de frente para ele, mas depois se jogou para o lado e desferiu um golpe com a Zanpakutou à esquerda. Kiel se confundiu com essa mudança brusca de direção e só teve tempo de virar o tronco para a esquerda, cruzar as duas mãos e tentar bloquear a lâmina com as garras. O rápido Shinigami não parou os ataques e dessa vez, dando um salto mortal, direcionou a lâmina contra a garganta do inimigo. O Hollow bateu as asas e se impulsionou para trás no intuito de sair do alcance da lâmina antes que ela cortasse seu pescoço. Parando a uns 3 metros do oponente, Kiel iniciou o contra-ataque. Deu um salto para cima do oponente, e quando se aproximou o mais perto que pôde, desferiu uma chifrada contra ele de cima para baixo. Se o Shinigami tentasse se defender ou esquivar da chifrada, Kiel continuaria atacando com com um soco da mão direita na direção do rosto dele e em seguida daria um salto para trás para também ficar a uma distância segura do inimigo.

Kiel tinha ouvido falar no Hueco Mundo que acertar um soco num shinigami era um dos maiores prazeres de qualquer hollow, especialmente quando o resultado é um Deus da Morte gritando tomado pela raiva. Supôs que o oponente havia ficado desestabilizado emocionalmente em vez de manter a calma, dessa forma, estava passivo a desatenções e erros. Kiel se aproveitaria disso e tratou de tentar deixá-lo com mais raiva ainda, rogando provocações com a esperança de que o inimigo estivesse ouvindo.

O Hollow riu de maneira sutil da situação e do jeito engraçado (para ele) que o Deus da Morte resmungava de revolta, mas de súbito algo soou errado. Suas lembranças assassinas chegaram à tona novamente. A voz de sua antiga mãe ecoava em sua mente sussurrando como se fosse uma assombração o afrontando num pesadelo. “Assassino, covarde, monstro, fraco!”, Kiel poderia dizer que já estava acostumado com a voz desse “fantasma”, todavia o problema é quando ela resolve aparecer justamente no meio de um banquete ou de uma batalha, atrapalhando em alguns casos mesmo que de forma mínima.

Kiel sacudiu a cabeça para os lados e lançou as lembranças ao esquecimento, como sempre fazia quando elas voltavam. Voltou a atenção ao verdadeiro adversário e por reflexo abriu as mãos em frente ao rosto e fecharia envolta da lasca de asfalto que voava em sua direção. Em seguida, arrancou do chão outro pedaço bem maior de asfalto e juntou as duas partes em frente ao seu corpo, formando uma espécie de escudo de duas camadas contra o hadou conjurada. Após terminada a magia do shinigami, funcionando o escudo improvisado ou não, Kiel largaria o que sobrasse de asfalto no caminho e correria em direção ao oponente. Quando chegasse perto, investiria as garras da sua mão direita contra o peito do shinigami e ao mesmo tempo sua mão esquerda tentaria agarrar o pescoço dele e projetá-lo com violência contra o solo.

- Não se irrite tanto, shinigami. Só estou tentando te matar por uma causa justa - dizia o hollow com a barriga roncando pela alma do adversário.

- Oh, me acertou? Nada mal – disse o hollow passando a mão sobre o ferimento que foi menos grave do que ele esperava.

Kiel tinha atacado o oponente e dessa vez teve certeza de que o feriu de forma satisfatória. O shinigami poderia estar com menor mobilidade por causa disso,  mas de qualquer forma continuou manuseando a Zanpakutou com maestria. Desferiu um corte contra a perna do hollow sem dá-lo oportunidade para desviar por causa da pequena distância e do tamanho dele. Kiel utilizou o primeiro tipo de defesa que pensou no começo da batalha: posicionou as garras das duas mãos na direção do golpe com a intenção de bloquear a lâmina.

O Deus da Morte chegava ao limite e estava próximo de sua morte, isso era um fato. Talvez por isso que estivesse atacando com maior ferocidade, mas quanto mais perigoso o confronto ficava, mais excitado Kiel se sentia. O oponente terminava o combo de ataques com uma estocada na direção da garganta do hollow, que reagiu desferindo um soco visando ao rosto do atacante. Aproveitaria que o alcance de seu braço fosse maior que o da Zanpakutou com o shinigami e com isso conseguiria acertar o rosto dele antes que a lâmina alcançasse sua garganta.

Já no contra ataque, Kiel tentaria agarrar o rosto dele, levantar voo apertando sua face com força para que não conseguisse reagir, fechar as asas quando estivesse numa boa altura e perder altitude em velocidade fazendo no final com que o shinigami se chocasse com tudo contra o solo. Caso não conseguisse agarrar seu rosto e executar esses movimentos, tentaria acertar sua garganta com uma chifrada.

Kiel levantou o pé direito e pisou sobre o estômago do shinigami moribundo. Encarava-o com certo olhar de desprezo e fome, com prazer de vê-lo naquele estado deplorável.

“Um dia... Alguém lhe dará... O fim que merece...”

Compreendeu que o shinigami rogou essas pragas na esperança de que futuramente a “justiça” fosse feita, mas era inútil. A Soul Society sempre esteve com os dias contados e em breve não haverá ninguém para impedir que os hollows mantenham o equilibro dos mundos.

Fechou suas mãos ao redor do corpo dele e o ergueu no ar pressionando os dedos contra sua coluna e costelas. A situação estava invertida, Kiel é que seria o Deus da Morte a ceifar a vida daquele pobre moribundo, mas a alma dele seria devorada, não purificada.

- Durma em paz – disse Kiel que em algumas abocanhadas consumia o shinigami até não sobrar mais nada.

Ele queria ficar mais um pouco no Mundo Humano para consumir mais almas, mas o seu inimigo foi o suficiente para deixá-lo de barriga cheia. Sendo assim, passeou tranquilamente entre o caos da rua provocado por ele mesmo e por uma Garganta retornou ao seu mundo.