[Treino de progressão - Jesse] Mysterious Realms

Os sonhos mais uma vez pesavam em meus ombros; paz? Onde? Quando? Não, impossível. O mundo sempre tivera suas batalhas, nunca esteve em total harmonia. Era incrível como a mente humana podia dissimular até uma verdade simples como esta.

Monstros, denominados seres horríveis, tenebrosos, horrendos. Mas, será que todos eles viviam numa floresta escura? Numa casa abandonada ou num cemitério? Não, a maioria deles transita entre nós, mora em nossas casas e dormem em nossos quartos. Ah, sim, alguns até estão em nossos corações. São pessoas como nós, andam como nós e até respiram como nós. Bem, existiam também os verdadeiros monstros, aqueles cujo você encontra em filmes de terror. Sério, eu já os tinha visto.

Os fantasmas tinham sido o começo, então vieram eles. Este mundo não era normal, nunca tinha sido. Mesmo que poucas pessoas soubessem da verdade, eu sabia, tinha o conhecimento de que seres vestidos em trajes negros lutavam contra estas coisas. No começo eu achava que aquilo era um sonho, mas depois entendi que havia um mundo, não, uma realidade inteira escondida de nossos olhares, de simples olhares mundanos.

Claro, não sabia o que realmente eram. Um dia eu estava tomando um sorvete e então, bum, um prédio na rua em que estava começou a quebrar todas as suas janelas e a soltar pedaços de vidro sem qualquer explicação aparente. Mas, eu pude ver o que estava acontecendo, embora ninguém mais tenha visto. Lá, voando no céu, estavam um homem vestido todo de preto e um ser tão feio que podia ser chamado de monstro. Foi aí que eu descobri que os fantasmas eram apenas o início.

Não conseguia tirar isso da cabeça enquanto voltava da escola para minha casa. Será que estava enlouquecendo? Ou aquilo tudo era real? Eu tinha que descobrir.

Status: Okay.

Os pingos de chuva caíam em meu rosto. Não demorou para que aquilo se tornasse uma fraca garoa. Só tinha percebido a mudança do clima ao sentir os respingos em minha pele, pois estava imersa em meus pensamentos. Tive que apertar o passo para não acabar pegando um resfriado.

Ao passar por um ponto de ônibus, notei algo deveras estranho no homem que ali se encontrava, afinal, nunca tinha visto um bolinho de arroz como aquele que ele comia. Bem, havia pessoas para todos os tipos de gostos. Já estava no final do ponto quando o homem se atirou em minha frente, ele era rápido. E, desta forma, começou falar um monte de coisas enquanto me impedia de passar, alias, eu não entendia nada do que ele estava falando.

— Energia espiritual? Fullbring? — As perguntas saíram um pouco mais ásperas do que deveriam. — Espera, você deve ser um daqueles cartomantes de araque. Sim, deve ser isso, embora tenha causado uma certa curiosidade em mim. — Disse isso mais para mim do que para o homem.

Ele não parecia estar mentindo, seu rosto estava preso num sorriso de orelha a orelha. Argh, não acreditava que iria fazer o que fiz a seguir. Olhei para ele e pedi para que me explicasse o que tinha falado, não antes de me sentar no banco do ponto de ônibus, pois ele tinha uma pequena cobertura que nos livraria da chuva.

Status: Okay.

Aquelas respostas me deixaram mais no escuro ainda. Claro, algumas coisas começaram a fazer sentido para mim.

Bem, desde pequena eu conseguia ver espíritos, almas das pessoas que haviam morrido. E, meus pais não conseguiam isso; no começo, todos pensavam que eu estava brincando, mas logo acharam que um 'médico' seria necessário para me ajudar. Desde que isso aconteceu, eu fiquei na minha, nada que dissesse ou fizesse iria me ajudar, então comecei achar aquilo um fardo nada agradável.

Uma palavra que ele dissera tinha me deixado um pouco incomodada, hollows. Pelo jeito que ele falava, o monstro que eu tinha visto se encaixava perfeitamente na descrição. Mas, aquele homem que estava lutando com o monstro, seria ele o tal de deus da morte? Mais perguntas surgiam em minha cabeça, enquanto eu apenas escutava a todo ouvidos.

Certo, de acordo com ele eu possuía uma tal força que aparece em poucas pessoas, o que nos tornava diferentes delas; ele nos chamava de Fullbringers. Será que eu tinha esse poder mesmo? Poderia eu o aflorar? E, esse tal de mundo espiritual? Queria muito saber, no entanto, o ônibus chegou e o homem se despediu de mim, embora tenha marcado um encontro para o dia seguinte. Como não tinha o que fazer em relação a isto, eu apenas aceitei o convite e esperei ansiosamente este momento.

Passado o dia, lá estava eu. O templo estava localizado no começo da floresta e de lá podíamos ver toda a cidade. E, sim, o homem com quem tinha falado no dia anterior estava lá, rezando no meio do local. Cheguei perto dele, um tanto que envergonhada, então tentei chamar sua atenção me apresentando.

— O-olá — Minha voz saiu tão esganiçada que parecia um pato falando, além de ter gagueado. — Como prometi estou aqui. Prazer, me chamo Ayako. — Com isso esperei a reação do homem e me sentei ao seu lado.

Status: Okay.

Quase pulei ao terminar de sentar, pois não esperava aquela reação do homem ali presente. Mas, logo tudo foi esclarecido e eu fiquei sem palavras. Felizmente, o homem começou a falar. Sinceramente achava o jeito dele bem estranho, não que isso realmente importasse, afinal, eu também era estranha.

Ele não quis revelar seu nome, pois preferia ser chamado de Sensei, desta forma, fiz como pediu. Então veio toda a explicação do que era Fullbring e de como eu poderia conseguir despertar o meu. Pensei inquietamente num objeto que sempre estava comigo e logo lembrei de algo que carregava para todos os lados. E, neste momento pendia em minhas costas.

O saco em formato de violão não portava o instrumento musical para o qual tinha sido feito, mas dentro havia uma espada embainhada, junto de vários panos que a escondiam e causavam volume ali. Claro, isso era necessário para não chamar atenção dos policiais. Peguei ela de minhas costas e mostrei ao Sensei.

— Algo como isso serviria? Sempre estive ligada com essa espada. — disse, enquanto observava a reação do ser. Sua lâmina refletia os raios de sol que perpassavam o local. O cabo era de cor azul trançado com detalhes em dourado. Sua bainha era revestida por um tecido fino também em azul.

— Okay. Como faço para conseguir a primeira chave? — perguntei, agora que tinha chegado até aqui não iria parar enquanto não conseguisse fazer aquilo.

Espada/Vector:

Status: Okay.

O meu coração quase saltou de meu peito. O homem tinha entrado em decomposição e morrido. Mas, seus olhos ainda continuavam lá, olhando para mim. E, olha que isso não foi a parte mais estranha.

De repente, eu tinha sido sugada por um turbilhão de sombras e já não conseguia ver mais nada. Será que ele havia roubado meus olhos? Não, pois logo em seguida eu consegui os abrir. Estava em outro lugar, embora não sabia como tinha chegado ali. O local era uma sala feita de pedras e não havia nada ali, apenas uma porta que tinha a palavra Memories gravada em si. Como não havia para onde ir, abri a porta e me joguei para dentro dela.

Novamente foi teleportada para outro lugar, desta vez estava numa rodovia e chovia intensamente. Argh, minha roupa ficaria toda molhada. Foi então que vi, ali no acostamento da rodovia havia um carro tombado e preso nas ferragens dele estava o Sensei. Pensei em ir ajuda-lo, mas era como se aquilo não estivesse realmente acontecendo. Afinal, onde eu estava?

Observei o mundo em minha volta, assustando-me com a cena que via por seguinte. Um monstro em forma de abobora segurava uma mulher e uma criança, enquanto o Sensei olhava desesperadamente para elas. O ser comeu metade da mulher, o que me deixou enjoada e com muita raiva, pois ele fazia tudo aquilo dando várias risadas. Já estava pegando minha espada para fazer alguma coisa quando os olhos do Sensei retornaram.

Assim, ele me esclareceu o que estava acontecendo naquele momento e onde estava. Sua pior memória era realmente ruim, sua dor devia ter sido pior do que a morte. Aquilo tudo ainda era estranho para mim, pois ver sua esposa e filha serem comidas por um monstro, bem, devo dizer que não tinha sido nada agradável.

O resumo das habilidades do homem me deixaram mais nervosa ainda, afinal, ele tinha o poder de me matar quando bem entendesse. Então, como se aquilo não fosse nada, os olhos viraram para mim e perguntaram-me qual era minha pior lembrança.

Isso me pegou de surpresa, mas não me deixou tão chocada diante de tais acontecimentos. Sim, eu sabia qual lembrança eu mais temia, também tinha sentido uma dor excruciante, na verdade, ainda sentia.

Nunca tive amigos, exceto uma única vez. Eu ainda era criança e tinha seis anos. Minha família era muito influente na sociedade e por isso tinham contatos com pessoas muito poderosas. Assim, como também tinham vários inimigos.

Yuki, o filho de uma criada da minha casa, era meu melhor amigo e sempre estávamos juntos. Minha mãe não gostava que eu ficasse com ele, mas isso nunca me impediu de vê-lo para brincar com ele. E, numa vez que tínhamos decidido brincar na rua, um homem raptou-nos. Nós dois fomos levados para um lugar longe da cidade, uma casa velha e abandonada. Yuki tentava me proteger daquele maldito homem, mas o que uma criança podia fazer contra um adulto? Nada.

O homem queria um resgate pela minha vida, mas Yuki não era necessário para o propósito do ser. Desta forma, ele matou meu melhor amigo na minha frente e o sangue dele ensopou minha camisa. O corpo de Yuki foi mandado para minha casa como mensagem do que o homem estava disposto a fazer se não conseguisse o que ele queria.

Meus pais eram pessoas muito fluentes no país, mas não eram o tipo de pessoas que 'gostam' de seus filhos. Eles pensavam mais na carreira e no dinheiro deles do que em mim, por isso não atenderam os pedidos de resgate do homem. O ser iria me matar quando soube disso, entretanto, algo surreal o impediu disso. Na época, eu não sabia o que era, mas um ser muito estranho comeu aquele homem.

Eu aproveitei disso para escapar, mas não antes de levar a espada que ele tinha usado para matar meu amigo, esta que estava em minhas mãos. Desse momento em diante, eu mudei meu estilo de pensar e viver. Meus pais, irmãos, amigos....todos estes não importavam mais para mim, agora, eu só pensava em sobreviver. Assim, eu aprendi como usar a espada para me proteger. Esta é a lembrança mais ruim que tenho.

Status: Okay.