A garota encarava serenamente o cachorro que, por sua vez, olhara-a de volta com uma expressão vazia, parecendo mesmo que olhara algo além da garota. E ela não soube, de início, o que aquilo significava. Acariciou o cheiroso animal com a mão nua, correndo seu pelo de um lado ao outro. Uma brisa repentina lhe obrigou a fechar os olhos, por um instante. O toque do animal no seu corpo repassava sua triste rotina: abandonado e completamente vulnerável ao frio.
Em um instante tudo mudara. A brisa gelada atravessava sua pele e corria por sua espinha, paralisando-a momentaneamente. O instinto escapulira da jovem que suspirava e discretamente olhara para trás. Nada ali, só o vento levado por um sopro da natureza. Antes que pudesse voltar a observar a dócil criatura, outra pusera-se de frente à seu olhar: assustada, não pensou em gritar ou recuar, afinal, já os tinha visto antes.
Hollows.
Por que sempre Hollows? Perguntou a si mesma. A questão não era se estava realmente sendo perseguida por hollows sua vida toda. Seria uma maldição, ou simplesmente má sorte? Deixou estes pensamentos de lado quando percebeu que o cachorro também não estava mais ali. Duvidou de si mesma, mas, não perdoaria-o.
Por que estaria atrás de um único cachorro? Desequilibrou sua própria mente.
A garota correu e correu, mas dificilmente conseguia alcançar o ágil hollow que além de se distanciar a cada segundo, manobrava o corpo com saltos e acrobacias encantadoras por onde passava. Nenhum obstáculo o pararia, ela soube. Não poderia persegui-lo daquela forma, por tanto, usou seu próprio cérebro. Os encantamentos e ensinamentos de sua antiga professora foram selados em sua memória, levando-a a crer que poderia se safar daquela situação. Ignorando o fato de sempre se lembrar das coisas que ela falava, mal pode concretizar que sua memória expandida era um dom, e não uma maldição - como outrora pensara, ao lembrar dos males de seu passado.
Reiatsu. A palavra de escrita simples tinha um único significado: pressão espiritual. E ela sabia que poderia usar isso a seu favor, como haviam lhe ensinado.
O rápido pensamento se esvaiu quando pôs seus pés firmemente colados ao solo. A energia esmeralda que emanava da sola era simplesmente a manipulação concentrada de seu poder, seu espírito e sua força. Esperou até que pudesse sentir seus músculos se contorcerem, o sinal de que algo mudara, para melhor ou pior - não pode deixar de pensar no fracasso. Aquele não era a hora para o fracasso, concluiu.
Em uma rápida sucessão, dois passos rápidos passaram para quatro, por fim dez, e quando percebeu, conseguia saltar e praticar corridas leves, mas que se olhadas com precisão, eram tão rápidas quanto o do hollow a sua frente. Desviou de um carro na rodovia que mal teve chance de notá-lo. Um vulto seria a definição de sua velocidade atual. A pequena aura que circundava seus pés também era provida de uma forte determinação em querer salvar o pobre animal que repousara inconsciente nas garras do ceifador. Parou por um momento, acima deu um poste de luz. O predador adentrava uma área escura e sombria, e por isso, a negritude de teu corpo ofuscava-se junto à falta de luminosidade do beco. Não tardou e a garota, após observar, partiu contra. Não esperaria ou recuaria, estava completamente determinada. Não deixaria o animal ser devorado sem mais nem menos, ignorando também, os problemas que ela mesmo tinha.
A garota nem mesmo soube como fez, mas o fez; duplicou não só uma, mas duas vezes, sua velocidade. Quase como um flash, um raio de luz luminoso, a garota atravessara num salto preciso e direcionado até o beco. A alma corrompida não vira a aproximação da garota, pois estava de costas. O animal sob o braço foi tomado de ti, levando o obscuro ser à loucura. Olhou para trás, e depois para frente, quando finalmente a viu, com o pobre animal em mãos. Um latido roubou-lhe uma única lágrima. Seria felicidade? Há muito não sentira tal emoção.
O momento seria levado de um simples salvamento para um assassinato; uma carnificina, se não fosse por
ela. A donzela de negro saltara do além, pousando a frente de Anne. Seu traje escuro caia muito bem em si nesta noite de lua cheia. O que era ela? Não quis pensar, só pensava no animal que deveria proteger. As palavras soaram docilmente, e ela soube o que tinha que fazer depois de as ouvir: — Fique onde está, eu cuidarei dele. — alertava a mulher do manto escuro. — Os trarei a purificação, almas corrompidas.
A mulher partiu. E com dois cortes, imobilizou o hollow. Este esvaiu-se em um fumo negro, e sua alma fora libertada. A observante não sabia como, só presenciava o momento. Quando terminou, ela retornou à jovem. — Vejo que está bem, e vejo que há bem em sua alma. Você sabia que este cão também é uma alma? — antes que ela pudesse terminar, Anne a olhara admiradamente de baixo, como se ela fosse uma deusa e a garota uma simples mortal. — Uma alma? — voltou a olhar para o cachorro. Pode, finalmente, ver o branco opaco que era seu corpo. Sim, ele já estava morto, mas por que vagavas? Sua mente fora subjugada por uma maré incandescente de pensamentos. — Deixe-me cuidar disto. A levarei para um mundo pacífico, a sociedade das almas. Lá não será caçado como foi aqui. E novamente, agradeço por sua preocupação para com este ser, sua lealdade e bondade é admirável. — concluiu a
shinigami. Suas palavras eram como uma súplica de um anjo caído, mas sabia também que eram absolutas, uma vez que a garota não tinha chances contra ela. E quando concordou, soube que nunca veria o animal, mas isso era importante? Ele estava salvo, e estaria eternamente protegido no novo mundo prometido pela garota.
— Cuide bem dele. Obrigado. Antes de ir, posso saber seu nome? — perguntou Anne. A donzela já havia se virado, mas resolveu fitá-la novamente. O seu pedido poderia facilmente ser atendido, e como demonstrou sua personalidade, ela não era uma má pessoa. — Me chamo Nakano Ruri.
É de fato uma boa história. Lembro-me do cachorrinho, do hollow, da donzela e de seu manto escuro e audaz. Mas por que não me lembro de seu rosto?
- Spoiler:
High-Speed MovimentRank: A
Encantamento: -
Descrição: Fullbringers podem realizar movimentos de alta velocidade através do Fullbring, tais movimentos são acompanhados pela cintilação de uma luminescência verde chamada Bringer Light, que é a preliminar para cada movimento utilizando esta técnica. Essa velocidade é alcançada através de uma variedade de usos diferentes do Fullbring; ao alavancar a alma no solo ao redor de seus pés, o Fullbringer pode aumentar a sua elasticidade, aumentando muito sua capacidade de salto. Além disso, com o ar ao seu redor, ele pode usá-lo para acelerar seus movimentos, resultando num aumento de força nos seus golpes.
anne bonny: h: 500, r: 290, s: 450